Homilia da Solenidade
de S. José
19 de Março de 2015 – Missa 21.30
Ano Pastoral dedicado a
São José
Celebramos a solenidade de São José, esposo da Virgem Maria e
patrono da Igreja Universal. S. João Paulo II a 17 de Março de 2002 afirma que
«A grande discrição com que S. José desempenhou a função que Deus lhe
encomendou faz ressaltar ainda mais a sua fé, que consistiu em colocar-se
sempre na escuta do Senhor, compreendendo a Sua Vontade, para a cumprir com
todo o seu coração e com todas suas forças. Por isso o evangelho define-o como
o homem justo (Mt1.9). Com efeito, o justo José é uma pessoa que reza, vive da
fé e procura fazer o bem em todas as circunstâncias concretas da vida. A fé
sustentada pela oração, este é o tesouro mais precioso que S. José nos transmite.
Quantos pais com vidas simples e de trabalho, imprimiram na alma dos seus
filhos o valor inestimável da fé, sem a qual qualquer outro bem corre o risco
de ser em vão.» Rezamos hoje de forma especial por todos os pais para que
descubram em S. José um modelo de fé e possam crescer na fé com os seus filhos.
Rezamos por todos os que são chamados a exercer a paternidade espiritual, de
forma especial o nosso Papa Francisco no dia em que se celebra dois anos de
inicio do seu pontificado sobre a guarda de S. José. Entrega expressa não só
nesse dia há dois anos mas ao longo destes dois anos das mais variadas formas,
como por exemplo a alteração litúrgica com a introdução da invocação de S. José
em todas as orações eucarísticas em todas as celebrações da Santa Missa.
Analisando a natureza do matrimónio de José com Maria nota-se
que inclui todos os elementos do verdadeiro matrimónio, tais como os descrevem
S. Agostinho e S. Tomás de Aquino: "união indivisível dos ânimos",
"união dos corações" e "consenso".
No início do Novo Testamento, como já sucedera no princípio
do Antigo Testamento, há um casal, formado por José e Maria, que constitui o
vértice do qual se expande a santidade de vida.
Atribui-se a S. Jerónimo o texto que diz: " a ruína no
mundo foi provocada por quatro causas: por um homem, por uma mulher, por uma
árvore, por uma serpente. A sua restauração foi produzida por quatro favores
que correspondem aos anteriores, a saber, por Cristo, por Maria, pela Cruz e
pelo esposo José.".
A sua paternidade expressou-se concretamente em ter feito da
sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da Encarnação e à missão
redentora com o mesmo inseparavelmente ligada; em ter usado da autoridade
legal, que lhe competia em relação à Sagrada Família, para lhe fazer o dom
total de si mesmo, da sua vida e do seu trabalho; e em ter convertido a sua
vocação humana para o amor familiar na sobre-humana oblação de si. Cedo seu
coração e todas as capacidades foram expressadas no amor que empregou ao
serviço do Messias germinando na sua casa.
A Liturgia, ao recordar que foram confiados "à solícita
guarda de São José, na aurora dos novos tempos, os mistérios da salvação",
esclarece também que ele " foi constituído por Deus chefe da Sagrada
Família, para que, como servo fiel e prudente, guardasse com paterna solicitude
o Seu Filho unigénito". O Papa Leão XIII realça a sublimidade desta
missão: " Entre todos, Ele impõe-se pela sua sublime dignidade, dado que,
por disposição divina, foi guardião e, na opinião dos homens, pai do Filho de
Deus. Daí se seguia, portanto, que o Verbo de Deus fosse submisso a José, lhe
obedecesse e lhe prestasse aquela honra e aquela reverência que os filhos devem
aos próprios pais". Estamos em crer que tem a sua continuação no céu.
São José fala mais que com palavras com a eloquência da sua
vida, dos seus gestos. Podemos e devemos olhar para a figura de José sempre à
luz da sua relação com a Virgem Santíssima e Jesus Cristo, o Verbo Encarnado.
No primeiro Anuncio angélico a José, na viagem a Belém, no Nascimento de Jesus,
na Apresentação no templo, na Epifania (Magos), na Fuga para Egipto, no Regresso
do Egipto, no longo tempo da Infância de Jesus e por fim no Transito e
Glorificação de S. José, encontramos nele um servo fiel e prudente, uma
testemunha autêntica e um auxilio privilegiado. O Glorioso Patriarca S. José
contínua actuante na terra desde a glória do céu. O cerca de quarenta
testemunhos que já me foram entregues, sobre a amizade com S. José, que já
chegaram para o livro «São José guarda-nos em Cristo», em louvor a Deus por S.
José, demonstram esta sua presença no meio de nós e pelo nosso país. Aquele que
na última aparição em Fátima a 13 de Outubro de 1917, apareceu com o Menino
Jesus ao colo que abençoava o mundo, nos abençoa.
Mas numa paróquia consagrada a Nossa Senhora, numa paróquia
como a nossa em que são já tantos os consagrados a Jesus pelas mãos da Virgem
Santíssima, segundo o caminho proposto por S. Luis Maria de Monfort, cujo
aniversario da sua morte celebraremos em 2016 (300anos).Gostava de meditar um
pouco convosco na figura de São José como patrono dos escravos de Jesus e Maria.
Que santo encarna melhor a figura da pessoa consagrada ao
serviço de Jesus e Maria por amor, que são José?
Quem melhor cumpriu do que ele (S. José) as exigências da
escravidão de amor, consagração total, consciente e voluntária às pessoas de
Jesus e Maria?
O anjo pediu-lhe a colaboração com a obra da salvação, a sua
vida ficou marcada e ligada espiritual e humanamente para sempre à vida de sua
esposa Maria e à de Jesus. Toda a vida de José se desenrola de uma forma
análoga como se desenrola a vida de sua esposa. As vicissitudes de sua vida,
estão condicionadas pelas de sua esposa, em ultima instância pelas da vida do
Filho de Deus feito homem. Tudo isto constituiu um ensinamento do Papa João
Paulo II na sua exortação apostólica sobre o "Guarda do Redentor"
(1989). Em que estabelece a profunda analogia que existe entre a Anunciação do
texto de Mateus e a do texto de Lucas. Diz o Papa: "O mensageiro divino
introduz José no mistério da maternidade de Maria. " O serviço da
paternidade cria uma relação que coloca José mais perto possível de Cristo,
proximidade que é finalidade de qualquer vocação e eleição. Este privilégio
passa através do matrimónio com Maria, pelo que o filho de Maria é também filho
de José, mediante o vínculo matrimonial que os une. Diria que S. José se faz
servidor de Maria e assim servidor de Jesus. Na sua humildade e obediência à
Vontade de Deus que se realiza através da Virgem Santíssima, o castíssimo José
é modelo e ajuda para o mesmo amor que queremos imitar através da total
consagração a Jesus por Maria, na Santa escravidão de amor. Com José e como
José, dizemos «tudo o que tenho e que sou é vosso ó Maria» com a certeza de ser
penhor seguro de ser de Jesus.
Na solenidade de S. José esposo da Virgem Maria no mesmo mês
em que celebramos os quinhentos anos de nascimento de Santa Teresa de Jesus uma
das maiores devotas do glorioso patriarca São José que na lista dos santos de
sua devoção, encontrada no seu breviário, contava trinta e quatro santos(e não
estava completa) mas entre eles havia um especial: São José. A razão não era só
por ser o primeiro na lista, mas por razão das suas vivências espirituais.
Afirma santa Teresa: "Gostaria de persuadir a todos que fossem devotos
deste glorioso santo pela experiência que tenho dos bens que alcanço de
Deus." Assim o afirmo também eu hoje como S.Teresa, já não porque o ouvi
de outros mas porque eu próprio tenho feito a experiencia disto mesmo na minha
vida.
Segundo ela (S. Teresa) nos conta que procurava celebrar a
festa de são José com toda a solenidade que podia. Missa solenizada, toque
festivo dos sinos, passadeira de flores e nuvens perfumadas de incenso e mirra.
É dia de oásis na passagem do deserto quaresmal, é dia de recuperar forças para
seguir caminho rumo à Páscoa, com o Glorioso S. José a caminhar à nossa frente.
É dia de festa, aqui expressa no Glória e Credo, nos paramentos brancos do
século XVIII, nas flores, na passadeira vermelha, no toque festivo dos sinos,
nos cânticos (especialmente neste novo cântico em honra de S. José composto
pelo nosso maestro), acima de tudo no louvor que o nosso coração quer ter para
com Deus em honra de S. José.
"Tomei por advogado e Senhor ao glorioso São José,
encomendei-me muito a ele. Vi claramente que tanto desta necessidade como de
outras maiores de honra e perda de alma, este pai e senhor meu me tirou com
maior bem o que eu sabia pedir. Não me recordo até agora de lhe ter suplicado
coisa que tenha deixado de fazer. E coisa de espantar as grandes mercês que
Deus me tem feito por meio deste bem-aventurado santo e dos perigos que me tem
livrado, tanto no corpo como na alma. A outros santos, parece ter dado Senhor
graça para socorrer numa necessidade; deste glorioso Santo tenho experiência que socorre em todas. O senhor nos quer dar a entender que assim como lhe foi sujeito na terra - como tinha nome de pai, embora sendo aio, O podia mandar -
assim no céu faz tudo o quando lhe pede. Isto, têm visto por experiência
algumas outras pessoas a quem eu dizia para se encomendarem a ele. E assim há
muitas que lhe são devotas, experimentado, de novo esta verdade. (...) Só peço
por amor de Deus que faça a prova quem não me acreditar e verá por experiência
o grande bem que é o encomendar-se a este glorioso patriarca e ter-lhe devoção.
É que não sei como se pode pensar na rainha dos anjos - no tempo em que passou
com o menino Jesus - sem que se dê graças a S. José pelo muito que então nos
ajudou."
Diante de Jesus Sacramentado durante este dia, especialmente
esta manha, agradecia a Deus por tantas bênçãos na vida de cada um de nós e da
nossa comunidade paroquial. Mas a certa altura simplesmente rezava «Obrigado
Jesus por S. José», assim fui repetindo, assim fui agradecendo a Jesus que depois
me levou a rezar «Obrigado S. José por Jesus». Como Jesus fica feliz que amemos
e honremos os seus pais, José e Maria, que nos são dados também por pais. Obrigado
amado S. José por nos levares a Jesus e Maria, por nos guardares em Cristo como
guardaste o próprio Cristo, fazendo-te guarda da Santa Igreja, guarda de cada
um de nós. Por isso agradecemos nesta Santíssima Eucaristia do dia de S. José
no ano a ele dedicado na nossa paróquia sob o lema «S. José guarda-nos em
Cristo».